Um lançamento milionário: Spyker C8

Tradicionalmente quando se pensa em carros superesportivos logo vem à cabeça, Ferrari, Lamborghini, Porsche etc. Mas não só dessas conceituadas marcas vive o mundo dos superesportivos.

Tem carros excepcionais que muitas vezes são desconhecidos do grande publico, principalmente no Brasil, já que a grande maioria dos carros conceituados são produzidos na Europa. Esse é o caso da holandesa Spyker, que existe desde 1898 e que no inicio deste ano, no Salão do Automóvel de Genebra, na Suíça, apresentou dois modelos excepcionais: Spyker C8 Laviolette SWB e o C8 Spyder SWB. Ambos acabam de desembarcar no Brasil, pelo importador Platinuss.

Muito bem construídos e com requintes extremos de sofisticação, os Spyker C8 Laviolette e o Spyker C8 Spyder são dois super esportivos, com design fantástico, Produzido em alumínio, à mão, um a um. Utilizam motores Audi V8, também em alumínio, de oito cilindros em V, 4.2 litros, com 400 cavalos de potência, velocidade máxima superior a 300 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos. O câmbio é de seis velocidades manuais. Eletrônica esquece: são carros para quem sabe pilotar e não dirigir.

No Brasil, quem quiser adquirir qualquer um dos modelos, vai ter que pagar R$1,1 milhão no Spyker C8 Laviolette (fechado) e R$1, 150 no conversível Spyker C8 Spyder. Mas calma, não fique triste, pois tem vários opcionais que podem aumentar o preço do modelo fechado para R$ 1,240 milhão. Os opcionais são o painel e o túnel central (incluindo relógios analógicos e botões de comando) em alumínio trabalhado, rodas de aro 19” Aeroblade (que imitam a hélice de um avião) e o dispositivo Whisper Mode, capaz de alterar o ronco de motor, de normal para sport. Este ultimo, é um botão no painel, que tudo lembra um cockpit de avião, que o piloto seleciona o modo com que quer o barulho naquele momento: suave quase discreto, ou um rouco forte. Diga-se de passagem, tirar o ronco forte deste modelo, é quase uma heresia. Mas tem gosto para tudo.

Pilotando

Numa pista em Sumaré, interior de São Paulo, fomos numa amanha de sábado acelerar o modelo conversível. Logo ao entrar, com uma certa dificuldade para entrar no banco concha revestido por couro da melhor qualidade, me remeteu aos tempos de pilotagem de carros de corrida (menos no luxo), já que o carro não tem o menor aborrecimento em dizer que está ali para isso mesmo: ser pilotado, admirado, transmitir prazer.

Os pedais saem do assoalho, curtos, finos e todos nivelados; no meio o câmbio curto é por “varão” aparente, como nos carros formula. Apertado o botão que aciona o motor, obviamente no ronco alto, e lá vamos nós. Primeira engatada e aceleração. O motor cresce de maneira impressionante e com o cuidado de quem está no primeiro contato, vamos embora reta a baixo. As primeiras curvas já deixam claro que a eletrônica que hoje maqueia os caros esportivos não está lá. Se acelerar demais, não bem dosado, o carro vira ao contrario, como alias num carro de corrida.

Com mais noção do que tinha nas mãos, começamos a acelerar mais. A velocidade vem de maneira surpreendente. Final da reta, em alta velocidade, e uma curva para a esquerda em cotovelo e longa. Marchas para baixo com punta-taco, freios competentíssimos e o carro parece que está grudado no chão. Uma estabilidade espetacular. Mas lembre-se, tem que dosar o acelerador na saída. E lá vamos nós acelerando. O carro é um sonho, permite um prazer indescritível. Talvez poucos carros foram tão prazerosos e transmitiram tamanha emoção como esse. Pena é que foram poucas voltas, mas o carro estava emprestado pela fábrica holandesa, apenas para este dia de testes.

Antes de você se decidir por um superesportivo “tradicional”, dê uma olhada no Spyker. Vale a pena conferir, até porque, se a decisão for uma marca relacionada ao automobilismo, como os populares já citadas no inicio deste texto, em 2007, a Spyker esteve na Formula Um e tem uma longa história no desporto motorizado.

História holandesa

Em 1898, em Amsterdam, na Holanda, dois irmãos, Jacobus e Hendrik-Jan Spijker, construíram um automóvel, com motor Benz, que ganhou aclamação imediata por sua carroceria artesanal. No mesmo ano, os Spijker construíram a famosa carruagem Golden State, ainda em uso hoje, para comemorar a coroação da rainha holandesa, Wilhelmina. Esta foi a virada em sua carreira empresarial: a partir desse momento, os irmãos Spijker e sua empresa ficaram  comprometidos com a produção de automóveis.

O nome da empresa foi alterado para Spyker, mais fácil identificação e reconhecimento nos mercados estrangeiros.
Em 1903, a  Spyker introduziu o avançado 60/80 HP. Foi o primeiro carro com motor de 6 cilindros e tração nas quatro rodas. No mesmo período, a Spyker apresentou e patenteou a tecnologia de proteção à poeira, em que sob o chassi “escondia-se” uma placa coletora.

A imagem da Spyker foi reforçada quando, em 1907, um modelo exclusivo tornou-se lendário, após competir com êxito o famoso rally Pequim-Paris, chegando em segundo lugar. Aos poucos a Spyker foi ganhando notoriedade e chegou a ser apelidada de “o Rolls Royce do continente”.

No período que antecedeu a 1ª Guerra Mundial, uma recessão mundial tomou conta do mercado de automóveis de luxo.  À Spyker significava que tinha de diversificar a sua produção e se fundiu com a holandesa Aircraft Factory NV. E, assim, a empresa começou a desenvolver e construir aviões caças. Durante a guerra, a Spyker construiu cerca de 100 aviões caças e 200 motores para aeronaves.

Em 1914 a  empresa introduziu o lema que continua a ser utilizado até hoje: “Nulla tenaci invia est via (Aos obstinados nenhum obstáculo é intransponível)”.

Depois da guerra, a Spyker retomou a produção de automóveis. Um dos mais famosos foi o modelo Spyker C4, cujo motor era muito especial, construído pelo engenheiro alemão Wilhelm Maybach. Ele tinha um duplo sistema de ignição de alta tensão com magneto da Bosch e bateria-bobina de ignição com duas velas por cilindro.

O Spyker C12 LaTurbie deve seu nome a este êxito esportivo a motor. Também em 1922, o famoso piloto britânico Selwyn Edge quebrou recorde de velocidade do Brookland’s Double-Doze, com média de 119 km/h.

Em 1925, a  Spyker encerrou suas atividades, mas o seu nome nunca foi esquecido. Porém, em outubro de 2000, resurge, com o Spyker C8 Spyder, no Motor Show de Birmingham. O Spyker C8 Spyder ganhou aclamação imediata e, ainda em 2000, ganhou prêmio de design, outorgado por instituto de engenharia automotiva. O Spyker C8 Laviolette, por sua vez, fez a sua estréia durante a Amsterdam Motor Show, em fevereiro de 2001.

Logo a marca voltou com sucesso às competições, principalmente de endurance, como as 24 Horas de Le Mans, onde alcançou a primeira vitoria em 2003. Depois, outras vitorias em várias competições e títulos de qualidade dos modelos de rua, conceituaram a marca como uma de maior destaque no mundo dos superesportivos.