Houve um esportivo marcante dessa época, que ficou no limbo: o Puma GTB, que utilizava a mecânica do Opala, mas possuía a simplória e pouco eficiente suspensão traseira chamada Hotchkiss, composta de feixes de molas longitudinais que serviam também como elementos de localização do eixo motriz traseiro (rígido) em vez das molas helicoidais e cinco braços de controle originariamente utilizados no Opala. Fico na dúvida se, por suas linhas, eu deveria classificá-lo como um esportivo dos anos 80 ou pela sua mecânica classificá-lo como esportivo típico dos anos 70. Ainda não sei!
Os anos 80 iniciaram-se para a Volkswagen com o lançamento do Gol e da sua família Voyage, Parati e Saveiro; no meio dos anos 80 a marca alemã se aventurou nos carros médios lançando a família Santana que incluiu a perua Quantum. Não menos importante para a GM foi o lançamento de sua família Monza que nasceu com o hatch de duas portas 1,6-litro/72 cv e, na metade da década, virou sedã de duas e quatro portas.
Na Ford, o início dos anos 80 trouxe o Del Rey, que na realidade era uma versão luxuosa e sofisticada do Corcel, e em agosto de 1983 chegou o Escort, um carro que fazia muito sucesso na Europa e que foi lançado aqui com o motor chamado de CHT, que na realidade era o motor Renault Cléon-Fonte que chegou por aqui no Corcel em 1968. Logo depois, no final do ano, veio o XR3, a versão esportiva do Escort que dispunha, inclusive, de um motor mais potente, de 83 cv, a álcool, com comando de válvulas mais nervoso e carburador de corpo duplo mais apropriado para destacar o desempenho do novo carro.
A Fiat trouxe uma frente mais moderna para o 147 batizada de Europa e junto com essa reestilização veio a versão 3-volumes, chamada de Oggi. Nessa mesma década, em 1984, a Fiat trouxe o seu grande lançamento europeu de 1983, o Uno e sua família composta da perua Elba, utilitário Fiorino e o sedã Prêmio. Na segunda metade da década, chegou a versão esportiva do Uno batizada de 1.5R que possuía um motor argentino mais potente, de 86 cv.
A Puma já não tinha mais o apelo que tinha para o consumidor que demonstrava no final dos anos 60 e nos anos 70. Coisas mais interessantes e modernas eram lançadas. A força bruta dos Opala 250, dos Maverick V-8 e dos Dodjões V-8 deixaram suas marcas na década de 70 e os refinamentos tecnológicos dos novos esportivos dos anos 80 chamavam mais a atenção do consumidor moderno.
Em 1984, a Volkswagen, em resposta ao Escort XR3, balançou o mercado lançando o Gol GT com o motor 1,8 que era uma nova geração do EA827. O câmbio de quatro marchas e pouco menos de 100 cv de potência davam ao pequeno Gol uma arrancada e uma retomada de velocidade que impressionavam. A Volkswagen, acertou em outros aspectos do Gol GT: O carro era dotado de refino de acabamento que encantavam ao consumidor, como as rodas de liga leve de 14 polegadas montadas com pneus de perfil baixo (185/60HR14), bancos Recaro, ar-condicionado e um sistema de som impressionante para a época. Faróis auxiliares de longo alcance e de neblina, e cores chamativas, completavam o pacote.
A Fiat, no mesmo ano, lançou uma versão esportiva do sedã Oggi, batizada de CSS, que tinha como um de seus objetivos a homologação para disputar o Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos. Foi pilotado por nada mais, nada a menos, que os irmãos Wilsinho e Emerson Fittipaldi,além de outros profissionais das pistas engajados na equipe oficial de fábrica. O motor do CSS, de 1.415 cm³, derivado do 1300 (1.297 cm³), de 78 cv, chegou a ser disponível para clientes em versão de rua. Externamente, rodas de liga leve, uma asa na tampa do porta-malas e faróis de longo alcance na dianteira completavam o visual dos carros pretos com acabamento em vermelho.
Em 1985, a resposta da GM veio com o Monza S/R hatchback, qua apesar de possuir o mesmo motor 1,8 da versão normal, disponibilizava ao consumidor um câmbio de cinco marchas com relações mais curtas e próximas, que melhoravam as arrancadas e as retomadas de velocidades. O kit esportivo era baseado no mesmo desenvolvido na Inglaterra para o Vauxhall esportivo inglês. Bancos Recaro e grafismos vermelhos nos instrumentos do painel completavam o estilo interno. Externamente, rodas de liga de alumínio exclusiva e faixas decorativas completavam o visual do carro.
Mas os anos 80 não parariam por aí em sua safra de esportivos de alto desempenho. Na segunda metade da década, novas versões começaram a surgir, e com desempenho ainda mais marcante e acentuado. A briga era ferrenha para quem construísse o melhor esportivo.
Em 1987, a Volkswagen mostrou o novo Gol GTS. Além do design mais refinado, com a frente mais delicada e bonita, o novo carro trazia o motor 1,8 reformulado com bielas mais longas e pistões mais leves e curtos, de pouco mais de 100 cv, que mostrava um desempenho superior, sem que isso comprometesse o consumo. E o câmbio de cinco marchas, que havia surgido em 1985 em configuração 4+E, era equipamento de série no GTS mas com relações encurtadas. O carro, principalmente na versão a álcool, era bem rápido e esperto, com um torque e uma potência que se destacavam desde as baixas rotações. Para aqueles insatisfeitos, kits de turbocompressor inundavam o mercado fazendo o desempenho do GTS saltar vários degraus acima.
Gol GTS (Foto: youtube.com)
A vida do Monza S/R não foi muito longa e chegou até 1989. No final da década, o esportivo do Monza deu lugar a versão esportiva do recém-lançado Kadett, que foi apresentado no Salão do Automóvel no final de 1988. A versão esportiva do Kadett, o GS. apesar de ter sido revelada no Salão, teve sua comercialização iniciada apenas no segundo semestre de 1989. Oferecido apenas com motores 2-litros a álcool de 110 cv a carburador, o Kadett GS se caracterizava por relações de marchas curtíssimas de seu câmbio de cinco marchas, recurso que melhorava o desempenho mas aumentava muito o nível de ruído e, principalmente o consumo. Com o tanque de apenas 47 litros a autonomia era pequena.
Com bancos Recaro, rodas exclusivas e uma harmônica asa traseira, o Kadett GS tinha um desempenho que chegava a impressionar, tamanha rapidez que o motor de 2 litros e o câmbio curto proporcionavam. Não demorou para que a GM tornasse o GS mais longo de transmissão passando os pneus de 185/60HR14 para 185/65HR14 e alongando o diferencial de 3,94:1 para 3,74:1.
Mas o rei da década foi, sem dúvida, o Gol GTi (foto de abertura). Para quem achava que o Gol GTS a álcool era o ápice da performance, o Gol GTi veio para calar todas essas teorias. O carro inovou na mecânica com seu motor a gasolina de 2 litros a injeção de 112 cv (potência líquida, a VW chegou a declará-lo com 120 cv, mas era potência bruta), até pela decoração inusitada das linhas do Gol: oferecido apenas na cor azul-marinho metálico (azul Mônaco) com os detalhes de acabamento na cor prata, o carro tinha ainda rodas exclusivas e uma personalidade marcante. Onde quer que ele chegasse todos sabiam que ali havia um Gol GTi. Era o único esportivo que batia o Kadett GS. Um show!
O carro deixou saudades por onde quer que tenha passado, e aqueles que tiveram a ventura de ser adolescentes ou jovens nessa época, tenho a certeza de que têm saudades do GTi, o carro que marcou a década de 80 pelo ineditismo da sua injeção de combustível.