O Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck teve neste domingo (8) uma das corridas mais movimentadas de sua história. Um acidente envolvendo sete pilotos e a interrupção da corrida, que assim teve duas fases e encaminhou as definições de resultado para a soma dos tempos de prova de cada piloto, não impediram o paranaense Leandro Totti de atingir um feito inédito: o de vencer todas as quatro primeiras etapas de uma temporada.
O piloto da RM Competições/MAN Latin America conquistou em Brasília (DF), no Autódromo Internacional Nelson Piquet, sua quarta vitória em 2014, repetindo o resultado que havia obtido nas etapas de Caruaru (PR), Curitiba (PR) e Interlagos (SP). A segunda vitória no circuito mais veloz do calendário, onde já havia sido primeiro colocado em 2012, elevou de em um ponto sua vantagem sobre o vice-líder do campeonato, Felipe Giaffone.
Giaffone e Totti eram, nesta ordem, os dois primeiros colocados no GP Petrobras quando a corrida foi interrompida, na sexta volta, para remoção dos caminhões envolvidos no acidente. A diferença entre eles era de 192 milésimos de segundo. Depois das 33 voltas que compuseram a fase final da prova, Totti cruzou a linha de chegada 0s503 à frente do companheiro de equipe. Somados os tempos, sua vitória foi confirmada por uma margem de 0s311.
Outros três paulistas completaram o pódio. Roberval Andrade foi o terceiro com o Scania da Ticket Car-Corinthians Motorsport. O quarto foi Paulo Salustiano, com o Mercedes-Benz da ABF Racing Team. Djalma Fogaça, com o Ford da DF Racing Fans, foi quinto. “Só tenho a agradecer à minha equipe, que está sempre colocando os caminhões na pista para testar e desenvolver, estamos trabalhando forte. Essa é uma vitória de toda a equipe”, definiu Totti.
Giaffone reconheceu ter um caminhão mais rápido nas voltas finais. “Eu precisava terminar a menos de dois décimos para ganhar na soma de tempos e sabia que a gente não poderia bater de jeito nenhum. Na penúltima volta, tentei passar, vi que não ia dar e recuei, para me armar para a última, mas ali ele enfiou uma quarta (marcha) e freou tarde demais. Eu não faria com ele, mas foi uma estratégia que ele decidiu, depois a gente conversa”, descreveu.
Andrade conquistou seu terceiro pódio na temporada. “Tive bastante dificuldade na segunda fase da corrida. O Beto (Monteiro) apertou bastante e eu tive uma pane elétrica, meu caminhão desligava a três mil giros. Eu estava em terceiro, aí perdi várias posições. Depois retomei a elétrica, peguei o jeito dela e consegui administrar o problema”, descreveu. “Foi um bom resultado em uma fase difícil, a equipe não tem a tecnologia que precisaria ter”.
Foi a segunda vez, no atual regulamento desportivo da Fórmula Truck, que a soma de tempos de duas fases distintas de uma corrida foi aplicada para determinar seu resultado final. A direção de prova já teve de recorrer ao artifício na segunda etapa da temporada de 2013, em Londrina, quando a chuva levou a uma interrupção da prova para que as equipes trocassem os pneus de todos os caminhões. Paulo Salustiano ficou com a vitória naquela ocasião.
A CORRIDA
Dada a largada, Roberval Andrade ultrapassou o companheiro de equipe Danilo Dirani e assumiu a segunda posição. Um toque com Paulo Salustiano fez com que Jansen Bueno saísse da pista. No complemento da primeira volta, Salustiano saiu da pista na entrada da reta dos boxes e bateu na proteção de pneus. O posicionamento de seu Mercedes-Benz na área de escape ocasionou a primeira intervenção do Pace Truck na prova.
Bueno, Beto Monteiro, José Maria Reis e Wellington Cirino tomaram o caminho dos boxes para reparos nos caminhões, enquanto Andrade tomava a primeira posição de Felipe Giaffone – como a ultrapassagem ocorreu já sob a intervenção, o bicampeão brasileiro devolveu a posição ao pole-position. Após duas voltas com o Pace Truck na pista a relargada foi dada. Leandro Totti deu início à sua pressão sobre Andrade.
Dirani e Valmir Benavides, quarto e quinto colocados, aproximaram-se do grupo dos três primeiros, enquanto Débora Rodrigues perdia ritmo por conta de problemas mecânicos e, com seu caminhão envolto em fumaça, dirigia-se lentamente aos boxes. Bueno, que havia desistido da corrida, voltou à pista na terceira volta válida de corrida. Na quinta volta, Totti tomou a linha interna do traçado e ultrapassou Andrade na terceira curva da pista.
A abertura da sexta volta foi marcada pelo acidente que envolveu os caminhões de Pedro Muffato, João Maistro, Adalberto Jardim, David Muffato, Jaidson Zini, Luiz Lopes e Ronaldo Kastropil. Com óleo na pista, vários pilotos saíram da pista na curva de acesso aos boxes e bateram. Michelle de Jesus, que vinha logo atrás do grupo que saiu da pista, evitou atingir o caminhão de Jardim com uma manobra que recebeu aplausos.
A prova foi interrompida com o acionamento da bandeira vermelha para remoção dos caminhões envolvidos no acidente. O trabalho consumiu mais de uma hora. Uma nova largada foi dada para mais 45 minutos de corrida, com o resultado passando a ser determinado pela soma dos tempos dos pilotos em cada uma das partes da prova. Débora Rodrigues, que havia abandonado antes do acidente, conseguiu tomar parte da disputa.
Totti iniciou seu ataque ao líder Giaffone e consolidou na quarta volta a ultrapassagem que valeu-lhe a liderança. Bueno e Reis abandonaram de vez a disputa. Valmir Benavides e Salustiano, outro que conseguiu restabelecer as condições de seu caminhão e retomar participação, ultrapassaram Andrade, que caiu para a quinta posição. Na nona volta, André Marques, companheiro de equipe de Totti e Giaffone, teve problemas mecânicos e abandonou.
Débora e Michelle travavam um duelo bastante acirrado pelo 11º lugar na prova. Michelle manteve-se à frente até a 15ª volta, quando foi superada por Débora. Duas voltas depois houve a intervenção programada do Pace Truck, determinada pela direção de prova com o propósito de amenizar o desgaste a que os caminhões eram submetidos sob as altas temperaturas em Brasília – foi o instante em que Dirani parou seu Scania nos boxes.
Depois de duas voltas sob bandeira amarela houve a nova relargada. Wellington Cirino superou Djalma Fogaça, assumiu o sétimo lugar e passou a pressionar o pernambucano Beto Monteiro. Giaffone procurava manter-se o mais próximo possível de Totti – ele dependia de terminar a corrida a menos de 192 milésimos de segundo que o companheiro de equipe para conquistar sua 19ª vitória na soma de tempos, mesmo terminando em segundo.
Com 21 voltas completadas, a vantagem de Totti na pista era de 0s194, apenas dois milésimos a mais que o necessário para sua vitória. A diferença era de 0s130 na 23ª volta e de 0s137 na 24ª, o suficiente para Giaffone ficar com a vitória na soma de tempos. Na volta 25, Totti reestabeleceu a margem de quase meio segundo sobre o companheiro de equipe. Benavides, que tinha a terceira posição, estacionou nos boxes com problemas mecânicos.
Giaffone voltou a ter o resultado a seu favor, levando sua desvantagem a 0s157 depois de 27 voltas disputadas na segunda parte da do GP Petrobras. Nas voltas seguintes a diferença foi de 0s096, 0s155, 0s145 e 0s129, sempre favorável a Giaffone. Na 32ª e penúltima volta, um toque entre os dois fez com que Totti abrisse 0s579 e voltasse a ter a vitória assegurada – acabou confirmando o resultado com 503 milésimos de vantagem.
O GP Petrobras teve 39 voltas. O resultado final, determinado pela soma dos tempos das duas fases da corrida, foi o seguinte:
1º) Leandro Totti (PR/Volkswagen-MAN), RM Competições, 1h00min10s955
2º) Felipe Giaffone (SP/MAN), RM Competições, a 0s311
3º) Roberval Andrade (SP/Scania), Ticket Car-Corinthians Motorsport, a 14s219
4º) Paulo Salustiano (SP/Mercedes-Benz), ABF Racing Team, a 21s178
5º) Djalma Fogaça (SP/Ford), DF Racing Fans, a 27s350
6º) Marcello Cesquim (PR/Mercedes-Benz), ABF Racing Team, a 29s635
7º) Diogo Pachenki (PR/Volvo), Copacol Clay Truck Racing, a 36s229
8º) Michelle de Jesus (SP/Volvo), ABF Motorsport, a 48s284
9º) Raijan Mascarello (MT/Ford), DF Racing Fans, a 2 voltas
10º) Wellington Cirino (PR/Mercedes-Benz), ABF-Santos Desenvolvimento, a 4 voltas
11º) Beto Monteiro (PE/Iveco), Scuderia Iveco, a 5 voltas
12º) Valmir Benavides (SP/Iveco), Scuderia Iveco, a 7 voltas
NÃO COMPLETARAM
Danilo Dirani (SP/Scania), Ticket Car-Corinthians Motorsport, a 12 voltas
Débora Rodrigues (SP/Volkswagen-MAN), RM Competições, a 13 voltas
Geraldo Piquet (DF/Mercedes-Benz), ABF-Santos Desenvolvimento, a 24 voltas
Leandro Reis (GO/Scania), Original Reis Competições, a 24 voltas
André Marques (SP/Volkswagen-MAN), RM Competições, a 25 voltas
José Maria Reis (GO/Scania), Original Reis Competições, a 29 voltas
Jansen Bueno (PR/Scania), Muffatão, a 32 voltas
João Maistro (PR/Volvo), Copacol Clay Truck Racing, a 34 voltas
Pedro Muffato (PR/Scania), Muffatão, a 34 voltas
David Muffato (PR/Ford), DF Racing Fans, a 34 voltas
Ronaldo Kastropil (SP/Mercedes-Benz), Santa Carolina Racing Team, a 34 voltas
Jaidson Zini (PR/Iveco), Dakarmotors, a 34 voltas
Luiz Lopes (SP/Iveco), Lucar Motorsports, a 34 voltas
Adalberto Jardim (SP/Volkswagen-MAN), RM Competições, a 34 voltas
Melhor volta: L. Reis, na 2ª, 1min13s231, média de 143,496 km/h