Caoa paga US$ 2 bi por 50% da Chery

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Na madrugada do sábado, 11, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade celebrou com executivos em São Paulo, na sede da empresa identificada pelas iniciais de seu nome, a maior cartada já feita pelo Grupo Caoa em seus quase 40 anos de história. No mesmo horário em Pequim, na China, foi assinado o termo de cooperação estratégica da Caoa com a Chery no Brasil que cria a primeira joint venture de uma fabricante de veículos brasileira com uma chinesa. Após meses de especulações e negociações, as duas corporações se tornam sócias em partes iguais, mas o Grupo Caoa ficará responsável pela administração do negócio. As duas fábricas no País, da Chery em Jacareí (SP) e da Caoa em Anápolis (GO), e produtos serão compartilhados sob a nova marca Caoa Chery, que venderá carros da sociedade em toda a América Latina. Para viabilizar o desenvolvimento de veículos e linhas de produção comuns, prometem fazer investimentos de US$ 2 bilhões nos próximos cinco anos.
No início de outubro a Chery colocou oficialmente à venda pelo mínimo de US$ 64 milhões pouco mais da metade do controle de sua fábrica de Jacareí (SP), onde produz veículos desde 2014. A Caoa não divulga quanto pagou para se tornar sócia da Chery, mas informações divulgadas na bolsa de valores chinesas confirmam o pagamento. Até a sexta-feira, 10, nenhuma das partes no Brasil confirmava o negócio, que só foi oficialmente assinado no evento realizado sábado na China em que a Chery divulgou seu plano estratégico para os próximos anos, conforme adiantou Automotive Business.
“Essa parceria estratégica agrega a tecnologia de ponta da indústria chinesa com a experiência do time de engenheiros e tecnólogos da Caoa, para lançar a nova marca Caoa Chery, 100% nacional”, destacou o Grupo Caoa em comunicado com o supervalorizado título “Nasce um gigante brasileiro”. O texto foi divulgado logo após o evento na China, onde o diretor financeiro (CFO) da empresa, Marcelo Elias, representou a empresa brasileira na assinatura do contrato. “Vim com o mesmo terno que me casei, tamanha é a importância dessa parceria que estamos celebrando hoje aqui”, disse Elias diante de numerosa plateia que incluía o embaixador do Brasil na China, Marcos Caramuru de Paiva.
“Vamos fazer juntos novos sedãs e SUVs que vão se beneficiar da experiência do maior grupo de concessionárias da América Latina. Temos certeza de celebrar hoje uma cooperação muito bem-sucedida. Vamos unir dois gigantes”, destacou o CFO. Segundo a empresa brasileira, os carros Caoa Chery serão produzidos tanto em Jacareí quanto em Anápolis, onde há 10 anos a Caoa monta modelos da coreana Hyundai sob licença. “A fábrica de Anápolis já está sendo ampliada para isso e vai produzir modelos das duas marcas”, esclarece o comunicado.
“Na America do Sul o peso econômico e político do Brasil é comparável com o dos Estados Unidos no norte do continente. É de longe o maior mercado automotivo da sua região e com grande potencial de crescimento. A Chery já tem cerca de 80 mil clientes no país uma fábrica com capacidade para 50 mil unidades/ano. Por outro lado, o Grupo Caoa é o maior vendedor de carros da região e um símbolo de qualidade de atendimento aos clientes. Por isso estamos hoje celebrando a primeira joint venture do setor entre Brasil e China”, disse Anning Chen, presidente da Chery, no evento em Pequim.
Elias estacou à plateia chinesa que o Grupo Caoa vende cerca de 100 mil veículos por ano no Brasil. A empresa controla atualmente 180 concessionárias das marcas Hyundai, Ford e Subaru. Já a Chery, desde sua fundação em 1997, vendeu 6 milhões de carros, dos quais 1,3 milhões foram exportados para mais de 80 países, fazendo da fabricante o maior exportador do setor da China. “Nos últimos 30 anos nos tornamos o maior grupo de venda de veículos da América Latina, com prêmios conquistados pelo bom atendimento aos clientes, enquanto a Chery já é uma marca de presença global. Esses dois valores devem gerar bons resultados para ambos os sócios”, disse Mauro Correia, presidente do Grupo Hyundai, em um vídeo apresentado no evento.
Com novos produtos chegando – a Chery já havia prometido no fim do ano passado o lançamento de três SUVs no Brasil, os Tiggo 2, 7 e 9 – e uma rede bem formulada com a experiência da Caoa, ambas as empresas esperam reduzir a enorme ociosidade das duas fábricas, de mais de 90% em Jacareí e perto de 70% na linha de Anápolis. Agora ambas passam a operar em conjunto no Brasil e vão também explorar o mercado externo da América Latina, aumentando assim as chances de ocupar os espaços vazios. A nova linha de veículos da Chery, hoje elaborada com grau de qualidade e design superiores ao visto em passado recente, certamente encontrará melhor sorte na ponta final de consumo com uma rede experiente – em seu auge no País em 2011 a marca chinesa vendeu 21,7 mil carros e já teve 108 lojas, mas com as quedas constantes nas vendas para cerca de 3 mil este ano e falta de produtos adequados hoje estão em operação menos de 20 pontos. (AB)