Coluna “Vamos nos divertir?” – Por chico lelis

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Quando o 1.0 “venceu” o 3.0

 

Nos meus tempos de Imprensa GM, costumava acompanhar algumas viagens de testes de carros novos por este Brasil afora. Sair do Campo de Provas da montadora, em Indaiatuba (SP) pedia um verdadeiro esquema de guerra. Não raro vazava a informação de que modelos a serem lançados iam sair para um teste de longa duração e lá estava um fotógrafo e um repórter especializados, aguardando na primeira curva, com as máquinas prontas. Como a fonte “traíra” não sabia o horário, a rapaziada ia pra beira da estrada General Motores, que desemboca na rodovia Santos Dumont desde as primeiras horas da manhã e lá esperavam, esperavam … esperavam e esperavam.

E, muitas vezes, pegavam o comboio de cinco, seis modelos, fazendo a festa para seus leitores. Em uma das vezes que acompanhei a viagem/teste, fomos avisados que a turma de uma revista nos esperava lá na Santos Dumont. Havia um caminho de terra, que nos colocava numa saída vários quilômetros adiante de onde estavam os jornalistas. Quando fizemos contato com o campo, já no início da noite, não pudemos deixar de rir: os caras ainda estavam lá, a nossa espera.

Pois bem, nesta viagem saíram dois Cordas 1.0, dois Vectras 2.0, dois Omegas, ainda com motores 3.0, mas o time de apoio, com picapes que transportavam, além de peças, uma pequena oficina para eventuais necessidades (felizmente nunca precisaram ser usadas, salvo para trocas de pneus.

Chevrolet Omega

 

Toda a comunicação era feita por rádios de longo alcance, já que naqueles tempos, meados dos anos 90, o celular ainda era um sonho, especialmente por onde faziam-se os testes.

Cada grupo de engenheiros, mecânicos e técnicos respondia por um modelo e a caravana era puxada, claro, pelo carro que andava mais, ou seja, o Ômega. Como o caminho era definido, e ninguém podia sair fora, os carros mais potentes deixavam os pequenos 1.0 bem para trás. Marcava-se um ponto de encontro 20, 30 km adiante e todos paravam lá, por exemplo, para almoçar.

Em uma dessas paradas, depois de 3 dias de “comer poeira”, um dos engenheiros responsáveis pelo Corsa vermelhinho, resolveu que sairia na frente, para sentir um “gostinho” de estar “ganhando a corrida”. Era o mais bem humorado deles.

– Não corra muito,  hein, ou não vamos te alcançar.

Foi o que ouviu de seus colegas na saída do restaurante.

E saiu com uns 10 minutos de vantagem sobre seus “concorrentes”, que ao entrarem na pista avisaram que estava de partida.

Ele sabia que era uma questão de tempo, que logo encostrariam na sua traseira.

Malandramente, não respondeu ao rádio e se escondeu atrás de uma construção abandonada na beira da estrada.

– Alo, responda, onde você está?

Nada!

E o pessoal começou a pensar, como ele consegue estar tão longe que nem o rádio pega mais. E aceleravam.

Nada!

Resolveram reduzir o ritmo, para não comprometer a viagem de teste.

Foi quando descobriram a “molecagem”, vendo o pequeno Corsa pelo retrovisor e ouvindo o “moleque” reclamando de como eles andavam devagar.
O melhor computador do mundo (*)

 

O casal estava dando um trato na casa da tia, que havia partido aos quase 90 anos.

Móveis, roupas, louça, quadro, livros … Tudo seria doado para instituições de caridade ou para outras pessoas da família que quisessem.

Daí, dos dois filhos do casal, que estavam lá no sótão,gritam: manhê!!!!! Manhê!!!!!

– Falaaaaa!

– Achamos uma coisa incrível aqui em cima. Podemos ficar com ela?

– Depende. O que é?

– Quase sem fôlego, os dois, animadíssimos gritaram: ééé um computador. O melhor do mundo!

-É velho mas funciona e é ótimo.

Desceram as escadas correndo e a filha explicou:

– Deixa que eu falo; é assim um tipo de teclado de computador. Sabe, só o teclado? Só aquele lugar que se escreve?

– Sei!

– Então – explicou ela – essa máquina tem assim, tipo … uma impressora ligadas a este teclado, mas assim,ligada diretor. Dai, a gente vai, digita, digita,,,

Ela ia se animando, os olhos brilhando, quase não respirando…. mãe, e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo. É muuuuito legal! Direto, na mesma hora. Juro!Eu não sabia o que dizer. Juro que não sabia o que falar diante de uma explicação desas, a uma menina de 12, sobre uma máquina de escrever. Era isso mesmo?- Entendeu mãe? …vupt, a gente escreve e imprime. A gente vê a impressão tipo na hora e não precisa daquela coisa chata de entrar no computador, ligar, esperar hóóóras, entrar no word, escrever olhando na tela, mandar pra impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartuchos caros. Muito trabalho mãe!. É muuuuito legal e nem precisa colocar na tomada. Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora.Nossa filha, que coisa!

– Mas tem uma coisa, ou melhor duas. Não dá pra trocar a fonte, nem aumentar a letra,mas não é problema.

– Vem que a gente te mostra. Vem …

Eu parei e olhei, pasma, para a máquina velha.

Eles davam pulos de alegria.

– Mãe –  gritavam juntos – será que alguém da família vai querer, hein? A gente vai ficar torcendo, torcendo mesmo pra ninguém querer. Assim a gente pode levar lá pra casa. Isso é o máximo, o máximo!

Bem,enquanto estou aqui neste teclado, ouço o plec plec plec plec da máquina que, claro, ninguém da família ficou com a máquina, mas que aqui em casa já deu até briga, de tanto que foi usada. Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de A4 e de textos já “impressos na hora” por eles.

A cada plec plec plec eles grita: incrível!!!

Eu e meu marido estamos até pensando em comprar outra. Assim fica uma pra cada filho.

Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto do teclado para o papel. E sem tomada!

(*) Autora desconhecida (uma pena, não é mesmo. O texto é brilhante)