Brasil vence pela primeira vez uma etapa do Rally Dakar

Em mais um feito histórico para o automobilismo brasileiro, o piloto Lucas Moraes foi o vitorioso do dia na edição 2024 do Rally Dakar.

Desde a estreia do país, em 1988, na lendária aventura no deserto, que este ano acontece na Arábia Saudita, nenhum brasileiro havia conseguido chegar em primeiro lugar entre todos os competidores. Moraes disputa a principal categoria, a Carros, que reúne as equipes oficiais de fábrica e os maiores pilotos da modalidade de todo o mundo.

Em 2023, Moraes já havia conquistado o primeiro pódio brasileiro no resultado final de uma edição do Dakar, fato que lhe rendeu a participação na atual temporada.

A especial de hoje abriu a chamada “maratona”, trecho composto por duas especiais e que permite apenas duas horas na noite de hoje para eventual manutenção e preparo dos carros. Na chegada, o brasileiro foi cumprimentado pelos companheiros da equipe, agradeceu a ajuda de todos e chorou de emoção.

Acometido por uma forte gripe desde o primeiro dia do Dakar, ele também acompanha a evolução do tratamento da filha de quatro anos de idade, internada devido a um quadro de meningite.

“No começo, a condição dela nos assustou. Foi difícil, como pai, ficar aqui, mas os médicos disseram que tudo correria bem. Agora ela já está bem melhor e a previsão é de que amanhã já sai do hospital e vai pra casa. É, então, um dia duplamente feliz”, contou Moraes.

A disputa pelos 447km da especial – trecho cronometrado e válido pela corrida – foi super competitiva. Vários pilotos chegaram a ocupar a ponta, mas a briga final pela vitória envolveu Moraes, o sueco Mattias Ekstrom (Audi), o saudita e campeão mundial Yazeed Al-Rajhi (Overdrive) e o atual campeão do Dakar, Nasser Al-Athiya (Prodrive), do Qatar.

Na marca de 352km, Nasser tomou a ponta de Moraes por apenas quatro segundos. O carrarense chegou a abrir 22 segundos, mas Lucas reagiu com uma tocada vigorosa, retomou a dianteira e deu a primeira vitória ao Brasil em uma especial do Dakar. O primeiro lugar foi garantido por apenas 9s sobre o segundo colocado, a dupla sueca Mattias Ekström/Emil Bergkvist.

Com o resultado, Lucas e o navegador Armand Monleón subiram do oitavo para o quarto posto na classificação geral da prova, que é liderada pela dupla Yazeed Al-Rajhi (Arábia Saudita)/Timo Gottschalk (Alemanha).

“O Dakar é extremamente duro com o carro todo, mas os pneus sofrem demais. E poupar pneus e o carro é uma das principais estratégias para chegar bem na corrida. Não é fácil – todo mundo quebra ou tem pneus furados. Mas hoje nós conseguimos fazer uma corrida “limpa” e com boa velocidade o tempo todo. A navegação do Armand foi perfeita e permitiu que não perdêssemos tempo em nada. Vimos outros competidores perderem posição porque tiveram pneus furados, ou erraram. Nós, felizmente, conseguimos juntar todas as peças desse quebra-cabeça, o que nos deu esse resultado”, explicou o vencedor da especial de hoje, que tem apoio de Red Bull, Repsol, Strava, Oakley e Zapalla.

Mais brasileiros

Com 17 representantes, o Brasil tem neste ano sua maior delegação no Dakar. E tem tido bons resultados. A história mais curiosa do dia novamente ficou por conta da dupla Rodrigo Varela/Enio Bozzano Júnior (Can-Am Maverick XRS Turbo), que corre com um carro improvisado na categoria UTV T4 após seu equipamento ser desviado de rota por piratas no Mar Vermelho – e assim perder a data de início do evento, na última sexta-feira.

“Nós fomos desviar de uma rocha grande, íamos bater feio, mas com isso caímos em cima de uma moita gigante, e o UTV ficou preso lá, com as quatro rodas no ar”, conta Rodrigo que, junto com Enio, conseguiu liberar o veículo, para ainda terminar em sétimo no dia, caindo de segundo para quarto na classificação geral da T4.

O duo, que venceu a primeira especial da T4, no último sábado, tem apoio de Divino Fogão, Can-Am, Motul e Quadrijet e defende a equipe Team Brazil, formada por familiares e técnicos nacionais.

Marcelo Medeiros seguiu forte na categoria Quadriciclos. Foi quarto colocado hoje e ocupa a terceira posição no ranking geral da divisão.

O navegador Gustavo Gugelmin, parceiro do piloto norte-americano Austin Jones (Can-Am Maverick XRS Turbo) terminou em sexto e ocupa a mesma colocação na categoria UTV T3, destinada a protótipos. Ainda nesta divisão, a dupla Marcelo Gastaldi/Cadu Sachs (Taurus T3 Max) teve seu melhor dia no Dakar, terminando hoje em quinto e passando ao oitavo lugar na geral.

Na T4, o brasileiro Cristiano Batista e o navegador espanhol Fausto Motta (Can-Am Maverick XRS Turbo) lideraram mais da metade do dia, mas tiveram problemas e terminaram em quinto, colocando-se agora em quinto na geral.

A especial desta terça-feira (09) será a quarta das 12 previstas para o Dakar e encerrará o trecho maratona. Ela será a mais curta até o momento, com 299km de extensão. Os pilotos partem de Al Salamiya rumo a Al Hofuf, uma cidade situada no coração de um oásis extenso e exuberante, emoldurado por três milhões de tamareiras em seu entorno.

Apesar de ser a especial mais curta, também será uma das mais traiçoeiras. Segundo a organização da prova, há trechos de navegação extremamente difícil, com potencial para influenciar no resultado final da corrida.

Programação da 46ª edição do Rally Dakar

7.891 km de percurso total. Especiais somam 4,727 km
Data / locais / total do dia / especial
06/01, Etapa 01 – Al Ula –> Al Henakiyah – 414 km
07/01, Etapa 02 – Al Henakiyah –> Al Duwadimi – 431 km
08/01, Etapa 03 – Al Duwadimi –> Al Salamiya –447 km
09/01, Etapa 04 – Al Salamiya –> Al-Hofuf – 425 km
10/01, Etapa 05 – Al Hofuf –> Shubaytah – 375 km
11-12/01, Etapa 06 – Shubaytah  –> Shubaytah (48 horas) – 466 km
13/01 – Descanso
14/01, Etapa 07 – Riyadh –> Al Dawadimi – 473 km
15/01, Etapa 08 – Al Dawadimi –> Hail – 407 km
16/01, Etapa 09 – Hail –> Al Ula – 439 km
17/01, Etapa 10 – Al Ula –> Al Ula – 114 km
18/01, Etapa 11 –Al Ula –> Yanbu – 275 km
19/01, Etapa 12 – Yanbu –> Yanbu – 185 km