A morte pede carona

luto 

Prometi não falar mais de automobilismo nacional enquanto nada fosse feito, mas é impossível se calar diante de tantas mostras de incompetência administrativa e falta de fiscalização de autódromos e eventos que acontecem pelo país. A vida e a integridade dos pilotos que tentam, a duras penas, fazer com que esse esporte sobreviva é levada ao menor dos casos, ou ao completo descaso de quem deveria zelar por eles. Existe nesse Brasil de hoje uma permissividade enorme com o que é errado e com a total falta de ética de políticos e dirigentes de diversas categorias, sejam elas esportivas e sociais, existem padrões abaixo do aceitável para se viver, trabalhar e se divertir, o esporte a motor se transformou num vilão, no estranho no ninho, no filho rebelde da causa social, talvez por não ter atingido ainda a nova classe média que tanto o governo se gaba em ter conseguido erguer.
Os números são implacáveis em todos os sentidos e contra eles não existe qualquer argumento. Basta saber que de todas as categorias que estiveram em curso no fim de semana, o público que esteve acompanhando, em todo território nacional, foi muito menor que aquele que esteve no Maracanã para ver a seleção brasileira jogar um amistoso. A audiência da televisão é ridícula, não chega sequer a empatar com o número de pessoas que assistem a um desenho no domingo de manhã, e os valores que são investidos nos eventos quase nunca trazem retorno para os patrocinadores, nem para aqueles que batem no peito e dizem ter orgulho de estar trabalhando pelo esporte.
Acho que chegou a hora de se tomar uma real providência com relação a tudo que se fala e faz com o esporte a motor. Não adianta culpar o presidente da confederação, seja de moto ou carro, porque eles simplesmente não vão fazer nada. As diversas comissões que se apresentam como salvadoras da pátria muitas vezes desconhecem o problema simplesmente porque não correm sequer atrás de saber o que esta acontecendo. Meus amigos, nada vai acontecer no país que agora veste chuteiras e esquece as sapatilhas, é mais fácil acabarem com mais autódromos e construírem novas arenas.
No fim de semana passado aconteceu um dos resultados do descaso que assola esse esporte. Na chamada “categoria mais importante do automobilismo brasileiro”, a corrida no autódromo de Brasília poderia ter acabado em uma grande fatalidade por conta de uma reforma feita às pressas e de qualquer jeito. Bueiros e pedaços de cimento se soltavam, colocando em risco a integridade de todos que por acaso estavam na pista. Faltou ao organizador ter a coragem de cancelar a etapa e mostrar para o resto do país que isso não é brincadeira, que existem vidas em jogo que podem ser perdidas por uma manutenção feita nas coxas. Mas cadê o saco roxo pra isso? Não tem e nunca terá, no entender dessas pessoas isso poderia acarretar em um prejuízo financeiro. Agora eu pergunto: o que é o dinheiro diante da vida? Dinheiro a gente ganha, vida só temos uma e não tem volta, ser homem nessa hora e tomar uma atitude drástica não faria mal a ninguém, afinal quem coloca a vida em jogo quer um mínimo de segurança!
Por falar em vidas, mais duas se perderam no fim de semana. Em Carpina, interior de Pernambuco, estado onde mora o presidente da CBA, um piloto de kart morreu depois de se chocar violentamente com um poste. A federação, em comunicado oficial assinado pela assessoria da CBA, informou que a prova era pirata, mas como assim? Pirata não faz divulgação em rádio, TV, folders interrompem o tráfego em avenida, chama ambulância, coloca carro de som no meio da rua sem ninguém saber. Alguém autorizou e a entidade que faz isso é a federação local com a anuência da confederação. Pergunta se não cobraram a taxa?
Em Alagoas, na capital Maceió, um Raid acabou em tragédia. Uma gaiola de competição capotou e o piloto morreu na hora. Era pirata também? Os clubes de carros devem ser federados e quem rege as regras, impõem condições e, principalmente, cobram a taxa, são as federações com a, lógico, anuência da confederação. Parece que mentir e dizer que nada sabe é típico dos dirigentes que assolam a nação atualmente.
O resultado de tudo isso foi a CBA fechar o autódromo de Brasília até serem feitas novas reformas, proibirem corridas de kart na rua sem alvará de segurança e mudar a fiscalização em provas de aventura como esse Raid em Maceió, ou seja, nada.
Num esporte de risco como é o esporte a motor, esse tipo de fatalidade faz parte, mas facilitar para que isso aconteça com mais freqüência é irresponsabilidade. Sinto pena por aqueles que dependem disso pra viver porque o futuro é sombrio e quase sem perspectivas e não aceito o grito de quem viveu das benesses do esporte para dizer agora que tudo esta uma merda, merda amigo, estava antes, agora cagou-se tudo, mas para esses elementos passou a incomodar quando a torneira parou de jorrar ou quando algum parente esta em risco. Quer saber? Me poupe!

A gente se encontra na semana que vem! 

Beijos & queijos 

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