Nunca, em tempo algum, passou pela cabeça de um aficionado da Porsche, a remota possibilidade um dia a marca vir a produzir um carro que não fosse um esportivo de tirar o fôlego. A empresa alemã fugiu à regra ao criar o sport utility, o Cayenne, mesmo desagradando os puristas, mas manteve o espírito e o coração esportivo da marca.
Foram três anos de desenvolvimento, desde o desenho até a produção final. Em muita coisa, inclusive no projeto básico, o Cayenne foi desenvolvido em parceria com o seus “irmãozinhos”, usando como base o mesmo projeto do Volkswagen Touareg e do Audi Q7. Mas, mais que os luxuosos e competentes irmãos, o Cayenne é muito mais que um sport utility de luxo: é um modelo familia com um desempenho e uma estabilidade digna de um esportivo e à altura de receber a tradição, a garantia de qualidade e de emoções fortes da marca Porsche.
Mas,logicamente isso tem um preço: ele é o mais caro de todos.
Tendo os Estados Unidos da América como o maior consumidor das 25 mil unidades do modelo produzidas anualmente, o Cayenne é uma revolução dentro da tradição da marca: é o primeiro carro da Porsche com mais de duas portas, com apelo familiar e com vocação para o fora de estrada.
Primeira imagem
Logo de cara o Porsche Cayenne impressiona, porque mesmo sendo um SUV, mantém o design esportivo e agressivo, porém, com uma aparência forte e robusta.
O interior, muito espaçoso, mantém o requinte e a excelência nos materiais, já tradicional nos carros da marca. A beleza do interior e o acabamento em couro são um verdadeiro show. As maçanetas são de titânio. Os bancos envolventes são muito confortáveis e dispõem de regulagem elétrica, detalhe também presente no volante de três raios. O volante de excelente “pega” tem vários controles no triângulo central.
Na frente do motorista (a palavra motorista é até ofensiva para quem tem o prazer de dirigir um Cayenne), quatro belos instrumentos circulares de tamanhos diferentes e sobrepostos, com um mostrador multifuncional entre eles, dominam o painel de instrumentos. Diferente do modelo 911, que tem um enorme conta-giros no centro, no Cayenne o conta-giros foi para uma das laterais, o que é uma pena, pois com toda a certeza o painel iria ganhar mais beleza e esportividade.Guardar pequenos objetos não é problema, pois existem os populares “porta-trecos” para todos os lados.
A chave de ignição, como já é tradicional na marca, fica à esquerda do volante. O equipamento de série do modelo Turbo inclui alarme, computador de bordo, acionamento elétrico de vidros, ajuste elétrico dos bancos e revestimento interno completo em couro, bem como ar-condicionado e rádio com dois sintonizadores.
Vamos ao que interessa
Ao rodar, o Cayenne é macio e muito confortável, tanto para os passageiros dos bancos dianteiros como para os da fileira traseira. Andar no Cayenne é antes de mais nada um prazer. Mais: um privilégio para poucos. Apesar de silencioso, é possível ouvir o agradabilíssimo ronco tradicional da marca alemã. Mas é exatamente aí que está o maior fascínio de um Porsche: a motorização, desempenho e o conjunto perto da perfeição.
O Porsche Cayenne Turbo testado guarda debaixo do capô um motor V8 de 4,5 litros equipado com dois turbocompressores e resfriadores de ar (intercoolers), que geram 450 cv de potência. Segundo dados do fabricante, o modelo Turbo acelera de 0 a 100 km/h em 5,6 segundos e pode chegar a 266 km/h. A distribuição de força entre as rodas e a resposta ao acelerador podem ser sentidos em toda a faixa de operação do motor. O torque é impressionante: 63,2 mkgf entre 2.250 e 4.750 rpm. Atenção: estamos falando de um sport utility, ou seja, um carro para a família.
Para acompanhar essa verdadeira “usina” de força, o SUV da Porsche dispõe de uma caixa de câmbio japonesa da marca Aisin, automática, de seis velocidades com Tiptronic. A transmissão é, assim como o motor e a suspensão, um espetáculo à parte. Apesar de ser um bom apelo de marketing, o Tiptronic, ou seja a troca manual das marchas, é absolutamente dispensável. Isso com poucas exceções, serve para todos os carros que possuem esse equipamento.
Primeiro que o sistema continua “soltando” as marchas quando bem quer, muitas vezes no meio de uma curva, deixando o motorista em apuros. E depois, porque não é rápida o bastante para deixar a condução mais ágil e esportiva. No caso do Cayenne, isso fica mais evidente, pois o sistema funciona de maneira perfeita. Inclusive nas rápidas e ágeis reduções, coisa rara em câmbios automáticos.
O terceiro espetáculo fica para a suspensão pneumática com autonivelamento e ajuste de altura. Além do sensor que adapta a suspensão conforme o tipo de piso por onde o carro está passando, uma alavanca de controle manual no console central possibilita ao motorista escolher a carga dos amortecedores de acordo com a condução que o motorista pretende imprimir.
Assim, na posição Normal o carro fica confortável na medida exata para o uso familiar. Na posição Comfort, o Cayenne fica supermacio, bem ao estilo dos motoristas norte-americanos, seu principal mercado. E na última opção, a Sport, a que deixa claro que você está andando num verdadeiro Porsche. Fantástica. O motorista também pode escolher a altura do Cayenne. São seis regulagens, com 11 centímetros entre a posição mais alta e a mais baixa.
A estabilidade é excelente. No limite (e que limite!) o Cayenne tende a sair de frente, mas o controle de tração, que só é ativado em situações críticas, logo corrige. O modelo Turbo está calçado com pneus 255/55R18.
Ufa, resumindo: Porsche é Porsche. Um verdadeiro sonho de consumo para muito poucos, pelo menos no Brasil.